[Artigo de Eliane Bernardino publicado no jornal Extra, do Grupo Globo, em fevereiro de 2019]

Todos os anos, no mês de janeiro, empresários e executivos de mais de 90 países visitam Nova York para o maior evento mundial sobre varejo: o NRF Big Show. Este ano, alguns temas ganharam força. Percebe-se uma clara retomada de autoconfiança por parte do varejo, a viabilidade da loja física, a capacidade de avanço na agenda de transformação digital, em que o varejo entende a loja como ativo estratégico fundamental, com lojas com mais inteligentes e com menor nível de atrito, agilidade nos processos operacionais, conveniência, e ao mesmo tempo uma experiência elevada.

O evento tem discutido, em sua essência, a mudança pela o qual o varejo tem passado, que não são mais movimentos incrementais, mas saltos exponenciais, especialmente na China, que teve presença na feira e nas palestras. A China não pode mais ser vista como um país que copia, mas um celeiro robusto de inovação e disrupção. O próprio conceito do Novo Varejo (‘New Retail’), bem mais amplo que o omnichannel, foi cunhado pelo Jack Ma, fundador do Ali Baba, e é totalmente original e autoral. Enquanto a inovação tem a ver com fazer algo de um jeito melhor, a disrupção tem a ver com fazer coisas novas de um jeito que torna obsoleto o que existia. Na China, as plataformas de pagamento móvel movimentaram US$ 15,4 trilhões em 2017, o que representa um valor 70 vezes maior que nos EUA, que movimentou US$ 220 bilhões em 2017. Isto é disrupção.

Outro importante insight é o ‘Deep Retail’ (Varejo Profundo), em que as decisões estratégicas são tomadas a partir de dados. O aplicativo Waze é um bom exemplo que gera decisões baseadas em dados e algoritmos, que tem precisão muito maior que a nossa opinião. Na prática, decisões relacionadas a compra de produtos, quando comprar, quantas lojas abrir, escolha de localização e várias outras, passam a ser baseadas em dados e melhoram os resultados. O Hema, supermercado do Ali Baba na China (procure no YouTube), tem todo o seu processo de expansão, tamanho e sortimento da loja baseado em dados de pagamentos dos clientes. Para acessar tudo isso, a direção da empresa precisa se interessar mais por tecnologia e as soluções ao pleno alcance do empresário. Exemplos práticos de empresas que usam dados são a Amazon 4-star e a Nike House of Innovation.

Outro tema importante foi a excelência operacional, que é o esforço que traz retorno mais rápido do investimento. Há muitas tecnologias novas, que precisam trazer ou eficiência imediata ou a melhora da experiência do cliente, ou ambos. Os robôs Kiva dos armazéns da Amazon levam o produto do pallet até o funcionário do CD, não o inverso (procure no YouTube também!). No estande da IBM, foi mostrado um aplicativo de tecnologia de realidade aumentada para manutenção de equipamentos, que reduz custos de deslocamento e de tempo de manutenção. Carrinhos de autosserviço fazem auditoria de preço e de ruptura na gôndola. Aplicativos de IoT (internet of things – internet das coisas) proporcionam um painel de controle completo para auditoria operacional de um ponto de venda, para melhor acompanhamento remoto que pode ser acessado por um smartphone. São tecnologias que nem sempre o cliente vê, mas que fazem diferença.

Grandes temas centrais foram, ainda, o varejo centrado no cliente, o New Retail (Novo Varejo) e os aspectos relacionados à liderança do negócio, envolvendo a sua cultura e posicionamento como marca.

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Se você tem interesse em participar de uma delegação brasileira à Convenção e Feira NRF Big Show, há diversos organizadores com propostas para os diferentes orçamentos (BTR Varese, Gouvêa Ecosystem, GVcev, Brasil Varejo e outras). Também é possível participar do NRF Big Show de maneira independente, fazendo a inscrição diretamente no site da NRF (nesse caso, sem desconto na taxa de inscrição e sem as visitas técnicas e outras atividades que as delegações brasileiras organizam). Para quem não puder ir, há os eventos Pós-NRF em São Paulo, Rio de Janeiro e algumas outras capitais, com uma síntese dos principais insights. Para quem se interessa por varejo, é um conteúdo imperdível.

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